A população da região norte é mais afectada pela Covid 19 por ser “menos
educada”, “mais pobre e envelhecida” e por estar “muito concentrada em lares”.
É esta a frase de todas as polémicas, no momento actual. Ela foi visionada num
jornal da noite da TVI e, de imediato, provocou uma onda de contestação, de
revolta, de acusações de portofobia por parte de entidades e gente do Norte.
Eu que, não sendo propriamente do Norte, sou de uma certa zona da Beira
Alta, onde, felizmente, até agora, ainda não há registo de casos de contágio, o que me inclina a deduzir que os motivos apresentados na frase não são os que melhor justificam o grande número de afectados, não me quero arvorar em defensor da TVI mas,
sinceramente, não considero que esta frase seja tão grave, ao ponto de, na TVI, ter criado tanta preocupação, tanto sentimento de culpa, tanta necessidade de
vários, entre os quais, jornalistas e chefe de redacção, se penitenciarem, com tantos
“mea culpa” quase excruciantes.
Passo a apresentar as minhas razões para esta minha inócua opinião. A frase em
questão foi produzida no âmbito de uma investigação que tentava de alguma forma
justificar o enorme número de casos de Covid 19, na Região Norte. E entre
outras razões a jornalista responsável pela investigação, para a qual até
entrevistou especialistas, achou por bem apresentar também aquelas que constam
na tal que acabou por se tornar numa frase de lesa-majestade.
Afinal, vejamos, a frase, em si, se não contiver mentiras, por outras
palavras , se o que a frase contém são afirmações que podem ser fundamentadas em
números, não é líquido que possa ser considerada veículo de tamanhas ofensas, até porque a
TVI , como qualquer órgão de comunicação de massas, tem todo o direito de
informar, ainda que essas informações possam não ser do agrado de todos, ou de ninguém.
Explicando melhor, direi que é fácil apresentar números no que diz respeito à concentração em lares e no que concerne à população mais envelhecida; um pouco
mais difícil para a população mais pobre, mas também não impossível. Tenho a
impressão de que a real fonte do problema está, essencialmente, na expressão
“menos educada”, que deve ter gerado reacções do tipo “então lá na TVI estão a
considerar os do Norte mal educados?Mas o que é isto?”
Parece-me, a mim, que não
é nessa acepção que a palavra educada é utilizada, mas antes no sentido de
nível de escolaridade, o qual, por sinal, até se adquire no sistema educativo.
Nesta acepção, a expressão “ menos educada” também é quantificável, pelo que se pode verificar se a afirmação é verdadeira ou falsa...
Sendo assim, se a afirmação puder ser suportada por números que a
fundamentem, sinceramente, não vejo motivos para tanta indignação, tanto
alarido e tanta penitência!
Continuo, dizendo
algo que me parece muito difícil de rebater: as assimetrias continuam a
existir, quer queiramos que sim quer queiramos que não, e eu até sou dos que quereria que não, se isso dependesse da minha vontade! Podem notar-se, mais ou menos esbatidas, de
uma aldeia para outra, até dentro do mesmo concelho, de um concelho para outro,
de um distrito para outro, de região para região, da Capital para a Invicta, da
Invicta para os concelhos limítrofes e outros mais afastados... Tomando como
exemplo o núcleo populacional mais pequeno, cada aldeia, comparando-a com
outra, terá mais ou menos ricos ou, dito de outra forma, menos ou mais pobres,
mais ou menos idosos - feriria, certamente, susceptibilidades se tivesse dito
velhos e, por isso, não o disse - mais ou menos letrados. Os números só serão
idênticos em casos de meras coincidências.
Para terminar estas
reflexões sem leste, ás apalpadelas por via de uma certa bússola que não bussola, assumo que a
jornalista poderia ter pensado duas vezes antes de construir a frase que para
tantos se tornou maldita... Até porque, com uma grande dose de certeza, essas razões até não têm
peso bastante para servirem de prova irrefutável. São apenas premissas que não
podem levar a uma conclusão segura.
Com que então o pessoal do norte é "menos educada?"! Se a jornalista tivesse um pouco de tacto e o facto de ter tido a oportunidade de obter "mais educação" lhe servisse para alguma coisa de útil, certamente que não se exporia a tamanha gafe profissional. E as desculpas apresentadas posteriormente são ridículas. Como um velho amigo meu diz: as desculpas não se pedem, evitam-se. o autor do presente artigo apresenta-se igual a si próprio: Sempre diplomata, sempre contemporizador.
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