quarta-feira, 15 de abril de 2020


A população da região norte é mais afectada pela Covid 19 por ser “menos educada”, “mais pobre e envelhecida” e por estar “muito concentrada em lares”.

É esta a frase de todas as polémicas, no momento actual. Ela foi visionada num jornal da noite da TVI e, de imediato, provocou uma onda de contestação, de revolta, de acusações de portofobia  por parte de entidades e gente do Norte.
Eu que, não sendo propriamente do Norte, sou de uma certa zona da Beira Alta, onde, felizmente, até agora, ainda não há registo de casos de contágio, o que me inclina a deduzir que os motivos apresentados na frase não são os que melhor justificam o grande número de afectados, não me quero arvorar em defensor da TVI mas, sinceramente, não considero que esta frase seja tão grave, ao ponto de, na TVI, ter criado tanta preocupação, tanto sentimento de culpa, tanta necessidade de vários, entre os quais, jornalistas e chefe de redacção, se penitenciarem, com tantos “mea culpa” quase excruciantes.
Passo a apresentar as minhas razões para esta minha inócua opinião. A frase em questão foi produzida no âmbito de uma investigação que tentava de alguma forma justificar o enorme número de casos de Covid 19, na Região Norte. E entre outras razões a jornalista responsável pela investigação, para a qual até entrevistou especialistas, achou por bem apresentar também aquelas que constam na tal que acabou por se tornar numa frase de lesa-majestade.
Afinal, vejamos, a frase, em si, se não contiver mentiras, por outras palavras , se o que a frase contém são afirmações que podem ser fundamentadas em números, não é líquido que  possa ser considerada veículo de tamanhas ofensas, até porque a TVI , como qualquer órgão de comunicação de massas, tem todo o direito de informar, ainda que essas informações possam não ser do agrado de todos, ou de ninguém.
Explicando melhor, direi que é fácil apresentar números no que diz respeito à concentração em lares e no que concerne à população mais envelhecida; um pouco mais difícil para a população mais pobre, mas também não impossível. Tenho a impressão de que a real fonte do problema está, essencialmente, na expressão “menos educada”, que deve ter gerado reacções do tipo “então lá na TVI estão a considerar os do Norte mal educados?Mas o que é isto?”
Parece-me, a mim, que não é nessa acepção que a palavra educada é utilizada, mas antes no sentido de nível de escolaridade, o qual, por sinal, até se adquire no sistema educativo. Nesta acepção, a expressão “ menos educada” também é quantificável, pelo que se pode verificar se a afirmação é verdadeira ou falsa...
Sendo assim, se a afirmação puder ser suportada por números que a fundamentem, sinceramente, não vejo motivos para tanta indignação, tanto alarido e tanta penitência!
Continuo, dizendo algo que me parece muito difícil de rebater: as assimetrias continuam a existir, quer queiramos que sim quer queiramos que não, e eu até sou dos que  quereria que não, se isso dependesse da minha vontade! Podem notar-se,  mais ou menos esbatidas, de uma aldeia para outra, até dentro do mesmo concelho, de um concelho para outro, de um distrito para outro, de região para região, da Capital para a Invicta, da Invicta para os concelhos limítrofes e outros mais afastados... Tomando como exemplo o núcleo populacional mais pequeno, cada aldeia, comparando-a com outra, terá mais ou menos ricos ou, dito de outra forma, menos ou mais pobres, mais ou menos idosos - feriria, certamente, susceptibilidades se tivesse dito velhos e, por isso, não o disse - mais ou menos letrados. Os números só serão idênticos em casos de meras coincidências.
Para terminar estas reflexões sem leste, ás apalpadelas por via de uma certa bússola que não bussola, assumo que a jornalista poderia ter pensado duas vezes antes de construir a frase que para tantos se tornou maldita... Até porque, com uma grande dose de certeza, essas razões até não têm peso bastante para servirem de prova irrefutável. São apenas premissas que não podem levar a uma conclusão segura.



terça-feira, 7 de abril de 2020


coronabrincando. com

Neste período, tão negro,

o medo da morte é real.

Este vírus é medonho,

medonho e muito letal!

Bicho é

que não tem pés

mas anda com os nossos passos,

 se ele vai bem,

nós vamos mal!

Evita o passo fatal!

Sim, pelos passos mal dados,

os incautos serão coronados.

Vamos dar passos seguros!

E aplacaremos o medo

e estaremos no futuro.

Sejamos, pois,  precavidos

e não facilitemos.

A proteção está em casa,

em casa fiquemos.

Porém, não façamos da casa

um museu cheirando a mofo.

Abramos várias portadas

para entrarem o céu e o ar,

a montanha e o mar,

em grandes baforadas.

Mas, sair... não ainda !

Ainda não é a hora

do bucólico, lá fora.

Espera, por isso,

um pouco mais agora.

Agora é a hora

do épico caseiro.

Fica em casa, resiste!

Protege-te o tempo inteiro.

Evita reuniões,

contactos,

aproximações.

E quando acabar este tempo

de ausência, de clausura e  dor

privações e sofrimento

enfim, sairás!

E verás

o jardim-Terra,

sistematicamente ignorado,

agredido, mal tratado,

a respirar melhor!

E as cidades,

sem capacete, livres da poluição!

 E a natureza

em regeneração!

Então,

sim! Será a hora

do poema  lá fora!

 

J.D. abril 2020