domingo, 18 de outubro de 2009

Novos programas de português - A liberdade do professor

Da leitura que fiz da primeira parte do documento que apresenta estes programas quero apenas fazer uma síntese -muito breve- daquilo que achei que poderia gerar alguma controvérsia e ser motivo de alguma discussão e seguidamente tecer algumas considerações.
1. O desenho curricular rege-se pela unidade alargada que é o ciclo, dando às escolas autonomia para gerirem os programas no que diz respeito ao conceito de anualidade.
2. Ao professor é dada liberdade de adaptação dos programas à concreta realidade turma/alunos.
3. Valoriza-se o princípio da progressão por patamares devidamente consolidados.
4. Certas componentes programáticas podem ser retomadas noutros níveis, de dificuldade crescente, sempre na perspectiva de se manter uma forte articulação entre ciclos e de não repetir assuntos de forma injustificada e fastidiosa.

Que os programas pressuponham "uma concepção do professor de português como agente do desenvolvimento curricular" e lhe dêem "liberdade para ajustar o cuurículo ao cenário em que ele se desenvolve"parece ser algo de bom, em princípio, uma vez que esta visão dos assuntos faz com que o programa não se constitua em entrave , apeias, num coarctar da criatividade do professor na sua actividade diária. Porém, há um porém, o professor tem de estar consciente de que deve "ter presentes as metas a alcançar, a todo o tempo, especialmente no final de cada ciclo". Realcei a expressão a todo tempo porque me parece ser claramente limitativa da liberdade concedida duas linhas atrás, apontando ao professor que "sim senhor, tens a liberdade de gerir o programa mas lembra-te de que há metas intermédias a atingir, não é só no final do ciclo que tens que prestar contas..."

Digamos que vai ser bastante difícil pôr em prática esta boa intenção do programa, e em alguns casos poderemos dizer que ainda bem, somente, entenda-se, para evitar gestões do programa aleatórias e radicalmente subjectivas.

O professor é confrontado com a posição da Escola no que diz respeito às planificações anual e de ciclo - as escolas, elas sim, poderão fazer esta gestão, talvez até assumir a decisão de reprovar ou não nos anos intermédios (que não sejam finais de ciclo)-algumas delas já influenciadas pelas sugestões da IGE no sentido de se trabalhar nos diversos grupos disciplinares de forma, diria, corporativa, elaborando-se matrizes de testes comuns para um determinado tempo e para um conjunto de assuntos.

Daqui advém que, se os professores de português de um determinado grupo aceitam que num determinado tempo todos devem avaliar os mesmos assuntos, resta ao professor a liberdade de tratar esses assuntos à sua maneira, o que ainda dá, certamente, pano para muitas mangas, algumas, sem dúvida, de fazerem suar.

A valorização da progressão por "patamares sucessivamente consolidados" vem entortar de novo a linha que estávamos a traçar para o nosso texto e que parecia já seguir a direito. Aceitando que ao longo do ano lectivo há diversos patamares a consolidar( uma unidade didáctica, por exemplo, é um patamar), a não consolidação desses, de alguma forma, devolve ao professor alguma da liberdade que lhe haviam retirado as planificações de escola, pelo menos em termos de tempo de tratamento e avaliação dos assuntos.

A não repetição dos assuntos de forma injustificada e fastidiosa é algo muito importante na abordagem dos programas. Para isso, além da leitura individual e da leitura conjunta nos diversos grupos disciplinares será bom que se efctuem nos agrupamentos reuniões com representantes dos diversos ciclos para se proceder a um trabalho de análise dos programas de que possa resultar uma real articulação que leve à progressão sem fastio.

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